Uma História de Seis Cordas (Parte II)

Uma História de Seis Cordas (Parte II)

O modelo de guitarra elétrica criado por Beauchamp e Rickenbacker – a “Frying Pan” – era tocada deitada sob o colo do músico e cativou imediatamente os artistas havaianos da época. Porém, ela soava muito diferente de um violão, demorando a ser aceita.

 

Durante este período, alguns indivíduos começaram a testar um novo tipo de guitarra, usando as pick-ups anteriormente desenhadas, mas agora montadas sob um único bloco sólido de madeira.

 

É então que surgem os grandes aperfeiçoadores do instrumento.

 

Leo Fender

 

Clarence Leonidas “Leo” Fender, desde muito cedo mostrou interesse por eletrônicos. Aos treze anos, seu tio, que administrava uma oficina de elétrica automotiva, lhe mandou uma caixa com várias peças descartadas de rádios da época, junto a uma bateria. No ano seguinte, Leo visitou seu tio na cidade de Santa Maria, CA, e ficou fascinado por um rádio construído por ele com o mesmo tipo de peças descartadas. Mais tarde, ele confessou que a potência do som das caixas do rádio de seu tio lhe deixou uma marca tão forte que o levou para um caminho sem volta. A partir desta viagem ele começou a consertar rádios num pequeno empreendimento na casa de seus pais.

 

Na primavera de 1928, Fender entrou para a Fullerton Junior College, afim de se tornar um Contador. Enquanto estudava para tanto, ele continuava aprendendo sobre eletrônicos, consertando rádios e outros aparelhos, sem ter feito quaisquer cursos na área.

 

Certa vez, Fender foi indagado pelo líder de uma banda da cidade, se poderia confeccionar caixas para que o conjunto pudesse utilizar em seus shows em Hollywood. Ele foi contratado para construir seis sistemas de PA.

 

Rapidamente outros músicos começaram a lhe procurar, atrás de seus sistemas de som, os quais ele mesmo produzia para vender ou alugar. Leo passou a produzir ainda sistemas de amplificação para violões, os quais começavam a despontar na cena musical californiana.

 

Durante a segunda guerra ele conheceu Clayton Orr “Doc” Kauffman, ex-chefe de design da Rickenbacker, o qual havia criado o primeiro sistema de vibrato e que construía guitarras do tipo lapsteel havia uma década. Eles formaram sociedade criando uma guitarra naqueles moldes, incrementando-a com os então recentes aperfeiçoamentos da parte elétrica desenvolvidos por Leo Fender. A guitarra foi patenteada e era vendida em um kit com um amplificador.

 

Kauffman & Fender Lap Steel Guitar - 1945.

 

No final dos anos 40, já com a marca Fender, Leo percebeu uma oportunidade no blues e, posteriormente, no rock. Em 1949, criou o primeiro protótipo da Esquire – com o design que seria eternizado com o nome Telecaster –, que seria fabricado e vendido a partir de 1950. Em 1953, sua mais famosa guitarra, a Fender Stratocaster, começaria a ser desenvolvida.

 

 

Leo Fender transformou a guitarra no que ela é hoje. Antes das Fender, as guitarras costumavam ser feitas em corpos ocos, como os de um violão. Leo, inspirado na Rickenbacker e na Bigsby, usou um corpo de madeira maciça. A principal diferença, no entanto, estava no braço. Antes, corpo e braço eram feitos de uma mesma peça de madeira ou então eram colados. Leo notou primeiro, que era mais prático que fossem encaixados; segundo, que deveriam ser feitos de madeiras diferentes, mais adequados às suas funções.

 

Com isso, ele elevou a tocabilidade do instrumento, estabelecendo novos padrões de design, que seriam copiados nos anos seguintes.

 

Por incrível que pareça o inventor fez tudo isso com apenas um olho. Por conta de um tumor durante a infância ele fora obrigado a retirar uma das vistas. Segundo amigos, ele jamais superara o trauma. Leo sempre controlou as fotografias tiradas para que não se pudesse perceber uma prótese.

 

A marca Fender foi vendida à companhia americana CBS em 1965. A empresa se encarregou de manter o alto nível na fabricação dos instrumentos, mas nunca realizou grandes inovações. Até hoje é produzido aquilo que foi criado nos anos 50.

 

Leo criou outras duas marcas posteriormente, ambas de alto nível. A MusicMan nos anos 70, ainda inovadora e inquieta, e a G&L nos anos 80, já no fim de sua capacidade criativa, mas uma ótima fabricante de instrumentos.

 

"Leo" Fender em meio aos seus inventos.

 

O mais fascinante nesta história é que Clarence Leonidas “Leo” Fender mudou os rumos da música para todo o sempre, determinando o design e a sonoridade dos quais desfrutamos até hoje, sem tocar sequer um único acorde.