Vale do Itajaí busca tecnologia da Suécia para solucionar problema do lixo urbano

Vale do Itajaí busca tecnologia da Suécia para solucionar problema do lixo urbano

Foto: Timothy Takemoto/Stock Image

Faça uma lista com os mais urgentes desafios ambientais da humanidade. Além da emissão de poluentes na atmosfera ou da extinção de animais e plantas, é bem provável que você inclua a questão do manejo de resíduos sólidos urbanos: afinal, até quando cada um de nós poderá depositar quase 1 quilo de lixo, dia após dia (média nacional por pessoa, segundo o IBGE), em aterros sanitários?

 
O problema do lixo vem sendo confrontado desde os anos 80 em Boras, na Suécia, onde 99% do que é descartado pela população vai para a reciclagem ou se transforma em energia. É deste município escandinavo de 100 mil habitantes que vêm os palestrantes do 4º Fórum Regional de Resíduos Sólidos Urbanos do Médio Vale do Itajaí e Seminário Brasileiro-Sueco Sobre Gestão de Resíduos e Projeto Vinnova, encontro sediado pela Universidade Regional de Blumenau (FURB) nos dias 23 e 24 de janeiro. Antes do evento, eles vão visitar cooperativas de reciclagem e aterros sanitários na região para conhecer a realidade local.
 
Trata-se de mais uma etapa para o desenvolvimento, nos 14 municípios do Médio Vale do Itajaí, de um sistema integrado de gestão de resíduos sólidos pautado pela sustentabilidade e inovação tecnológica. A proposta surgiu no âmbito da Associação dos Municípios do Médio Vale do Itajaí (Ammvi), que chegou até a Suécia através da FURB, há mais de três anos parceira da Universidade de Boras no intercâmbio de acadêmicos e professores.
 
A instituição de ensino superior catarinense será a principal responsável pelo desenvolvimento de pesquisas e projetos de extensão que viabilizem os planos da Ammvi para a região. Há pelo menos nove grupos dentro da FURB envolvidos com a criação do sistema, entre eles os programas de pós-graduação em Engenharia Ambiental, Engenharia Química e Ensino de Ciências Naturais e Matemática, além da Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares.
 
Para realizar os estudos, a universidade e a Ammvi terão como parceiros o Instituto de Pesquisa Técnica da Suécia (Science Partner) e a Agência Sueca de Inovação (Vinnova), duas instituições que fomentam a inovação tecnológica em vários países do mundo, além do apoio local da Associação Empresarial de Blumenau (Acib).
 
“A FURB vai atuar com a expertise científico-tecnológica que possui. Aqui estão os pesquisadores que podem desenvolver alternativas a partir do modelo usado em Boras, que não pode ser apenas copiado aqui – é preciso considerar muitas diferenças técnicas e culturais”, analisa o pró-reitor de Pesquisa, Pós-Graduação, Extensão e Cultura da Universidade Regional de Blumenau, Marcos Rivail.
 
Recurso econômico
Além do sistema de gestão de resíduos, outro convênio da Ammvi em parceria com empresas e entidades da Alemanha tem como objetivo implantar uma usina de biogás na região. A biometanização, processo que transforma resíduo orgânico em gás metano, é um dos métodos utilizado em Boras – e em várias outras regiões da Europa – para reaproveitar a maior parte do lixo orgânico recolhido.
 
O produto é utilizado como combustível nos ônibus urbanos e nos próprios caminhões de coleta de lixo, resultando em tarifas mais baratas para os habitantes da cidade sueca. Para cada 10 mil toneladas de lixo orgânico, Boras produz 1 milhão de metros cúbicos de biogás – o mesmo que 550 mil litros de óleo diesel, segundo pesquisas.
 
O lixo se torna, assim, um valioso recurso econômico, que fomenta um setor industrial em crescimento, pleno de oportunidades para a iniciativa privada. Não por coincidência, o encontro na FURB terá a presença garantida de duas empresas suecas: Biogas Systems e Metso.
 
Realidade local
Já o chamado lixo seco – papéis, plásticos e metais – acaba sendo reciclado quase na totalidade. Faz parte das políticas públicas da Suécia estimular que a indústria utilize apenas materiais reaproveitáveis em suas embalagens. A responsabilidade pela separação e destinação desses resíduos é dos próprios cidadãos, que precisam depositá-los em locais específicos, facilitando o trabalho das cooperativas de recicladores da cidade. Por essa razão, o modelo de gestão de resíduos em Boras depende principalmente da participação da população.
 
Por isso, um dos grandes desafios, além das soluções de engenharia e logística, será reeducar a população local sobre a urgência de se lidar com o lixo de uma maneira mais sustentável. Atualmente, problemas na coleta de recicláveis e a falta de conscientização se unem para criar um número quase totalmente oposto aos de Boras: no Vale do Itajaí, menos de 10% das 120 mil toneladas de resíduos sólidos descartados a cada mês é, de alguma forma, reciclado ou reutilizado.
 
A maior parte do lixo doméstico acaba nos aterros de Timbó – que pertence ao Consórcio Intermunicipal do Vale do Itajaí (Cimvi), formado por nove pequenos municípios da região – ou Brusque. Assim, para tornar o Vale do Itajaí uma das regiões mais sustentáveis do mundo, a parceria terá de ser, também, com cada um de seus moradores.