Pesquisa FURB revela que saúde mental dos estudantes do Ensino Médio é desafio para professores da rede pública estadual

Pesquisa FURB revela que saúde mental dos estudantes do Ensino Médio é desafio para professores da rede pública estadual

Foto: RTE FURB

Quase 90% dos educadores pesquisados já presenciaram crises de ansiedade em sala de aula

 

Pesquisa desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Regional de Blumenau (PPGE/FURB) revelou que questões de saúde mental enfrentadas pelos estudantes impõem desafios ao cotidiano das escolas. Quase 90% dos professores que participaram do estudo já presenciaram crises de ansiedade em sala de aula. Os educadores revelam que os casos de sofrimento psíquico têm aumentado entre os estudantes nos últimos anos e consideram que a formação específica para lidar com tais situações é insuficiente. A pesquisa foi conduzida por Elaine Albanes de Mello, pedagoga e Mestre em Educação, sob orientação da professora Juliana de Mello Moraes, Doutora em História. O estudo coletou respostas de 125 educadores que trabalham em escolas estaduais de Ensino Médio pertencentes à Coordenadoria Regional de Educação de Blumenau.

Crises de ansiedade, falta de motivação, depressão, isolamento social, agressividade e autolesão são as condições de saúde mental que mais acometem os estudantes do Ensino Médio, de acordo com o relato dos professores participantes do estudo. Mais de 70% dos educadores que responderam ao questionário consideram que os casos de sofrimento psíquico entre os estudantes “aumentaram muito”. As rupturas causadas pela pandemia de Covid-19 e o uso intensivo de redes sociais foram apontados pelos professores como fatores que podem ter contribuído para o agravamento das condições de saúde mental dos estudantes.

Para mais de 90% dos educadores que participaram do estudo, questões de saúde mental influenciam o desempenho escolar dos estudantes, percepção que corrobora estudos anteriores. “As pesquisas têm mostrado que os estudantes com alguma questão socioemocional têm mais chances de reprovação, baixo desempenho, evasão escolar, abandono, infrequência. As emoções estão muito relacionadas à aprendizagem. A gente percebe que esses estudantes têm, além da baixa frequência e da evasão escolar, dificuldades de concentração, dificuldades de empenho e de motivação”, explica Mello.

A pesquisadora explica que são comuns os casos em que os estudantes procuram os professores em busca de acolhimento para suas questões de saúde mental. “Quando os alunos demonstram algum sofrimento psíquico na escola, muitas vezes, eles recorrem ao professor. Nem sempre de forma direta, mas acontece de eles escreverem em uma avaliação, fazerem um comentário durante a apresentação de um trabalho. Nos trabalhos artísticos a gente percebe bastante essa questão do sofrimento psíquico”, revela.

O estudo revelou, ainda, que a maior parte dos educadores (54%) não se sente minimamente preparada para lidar com casos de sofrimento psíquico no ambiente escolar. Cerca de 30% dos participantes afirmaram que se sentem razoavelmente preparados, enquanto 7% se sentem plenamente preparados e 4% dos participantes não consideram que essa seja uma função do educador. Mello atua como coordenadora pedagógica em uma escola estadual de Ensino Médio e convive diariamente com as situações reveladas pela pesquisa. “Nossa formação inicial de qualquer licenciatura e da pedagogia não contempla esse tema da saúde mental. É um tema que, em um primeiro momento, a gente pensa ser apenas da área da saúde”, ressalta.

Na avaliação da pesquisadora, a realidade indicada pela pesquisa é preocupante e revela a urgência de traçar estratégias para acolher e encaminhar os estudantes que apresentam alguma forma de sofrimento psíquico. A inexistência de um protocolo a ser seguido por todas as unidades escolares é uma das dificuldades enfrentadas por professores e coordenadores na hora de lidar com questões de saúde mental no ambiente escolar. O objetivo da pesquisadora é apresentar o estudo à Coordenadoria Regional de Educação de modo a fornecer subsídios para a elaboração de um plano de ação para lidar com tais questões. “Nós temos a responsabilidade legal de atender essas estudantes, de encaminhar. Claro que o educador não vai diagnosticar, não vai tratar, mas muitas vezes ele é o primeiro a perceber esses sinais. E como a educação faz parte de uma rede de proteção, junto com a saúde, a justiça e a assistência social, é nosso dever”, avalia.

 

Como a pesquisa foi realizada

O estudo coletou respostas de 125 educadores que trabalham em escolas estaduais de Ensino Médio pertencentes à Coordenadoria Regional de Educação de Blumenau (CRE Blumenau). O número de educadores participantes corresponde a cerca de 14% do total de profissionais vinculados à CRE Blumenau. As respostas foram coletadas a partir de um questionário online entre outubro e novembro de 2023. O questionário contemplou questões como frequência e natureza das situações de sofrimento psíquico observadas entre os estudantes, relevância do tema no cotidiano das escolas, relação entre saúde mental e desempenho escolar, além de questões sobre a formação para identificar e encaminhar os estudantes e práticas pedagógicas adotadas para enfrentar o problema. Além da coleta de respostas por meio dos questionários, a pesquisadora promoveu um grupo focal com 22 professores para explorar de forma mais aprofundada as experiências e opiniões dos educadores sobre o assunto.

 

FURB Pesquisa

O trabalho foi tema do programa FURB Pesquisa desta semana: