Pesquisa FURB revela potencial antifúngico em planta nativa da Mata Atlântica
Por Camila Maurer [07/03/2025] [13 h57]
Myrcia neoobscura apresentou efeito contra fungo resistente a medicamentos
Pesquisa desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Biodiversidade da Universidade Regional de Blumenau (PPGBio/FURB) revelou que a planta Myrcia neoobscura, nativa da Mata Atlântica e abundante em Santa Catarina, possui potencial antifúngico. O estudo foi conduzido pela pesquisadora Letícia Bachmann, Mestre em Biodiversidade, sob orientação da professora Tatiani Rensi Botelho, Doutora em Ciências Farmacêuticas. A pesquisa tem caráter inédito, pois a atividade antifúngica dessa planta ainda não havia sido explorada por trabalhos anteriores. O objetivo das pesquisadoras é contribuir para a busca de alternativas para o tratamento de infecções fúngicas, tendo em vista que alguns fungos possuem resistência aos medicamentos atualmente disponíveis.
O estudo identificou forte atividade antifúngica da planta contra a cepa Candida krusei, que é resistente ao fluconazol, medicamento antifúngico amplamente utilizado. A planta também foi capaz de reduzir o chamado biofilme, uma espécie de película que se forma em torno de fungos e bactérias que atua como mecanismo de proteção desses microrganismos. Segundo Bachmann, a formação de biofilme é um desafio para o controle de infecções fúngicas e bacterianas, sobretudo em ambiente hospitalar, pois ele impede a ação dos medicamentos e das células de defesa do paciente, o que gera aumento na mortalidade. A descoberta de que a planta é capaz de reduzir o biofilme formado pela cepa Candida krusei torna ainda mais relevantes os resultados obtidos pelo estudo.
Na avaliação de Botelho, os resultados são muito satisfatórios, pois foram capazes de demonstrar atividade antifúngica e antibiofilme contra uma cepa ainda pouco estudada. A pesquisadora explica que a maior parte das infecções fúngicas é causada pela cepa Candida albicans, atualmente responsável por cerca de 60% dos casos. Mas esse número já chegou a 90%, o que demonstra que a incidência de infecções causadas por outras variações do fungo, incluindo a Candida krusei, está aumentando. Botelho ressalta, ainda, a importância de realizar o diagnóstico preciso dos fungos causadores de infecções para evitar o uso de medicamentos que não são eficazes.
A busca por novos antifúngicos tem mobilizado pesquisadores em todo o mundo, tendo em vista a existência de fungos resistentes. Botelho explica que a resistência aos medicamentos decorre de uma série de fatores, como os mecanismos que tornam o fungo mais difícil de combater (a formação de biofilme, por exemplo) e o uso indiscriminado de medicamentos antifúngicos. “É muito importante que se faça o uso correto desses medicamentos, pelo tempo correto, e não se utilize sem real necessidade”, alerta. Além da resistência, a toxicidade dos antifúngicos atualmente disponíveis também é um problema enfrentado pelos profissionais de saúde: muitos dos medicamentos utilizados para o tratamento dessas infecções são tóxicos para o fígado ou para os rins, motivo pelo qual não podem ser utilizados por pacientes que tenham doenças hepáticas e renais prévias. Na avaliação da pesquisadora, esse contexto corrobora a necessidade de buscar novas alternativas de tratamento.
O estudo de Bachmann e Botelho foi realizado in vitro, isto é, em laboratório e sem o uso de seres vivos. A pesquisa utilizou cepas clínicas, ou seja, fungos provenientes de pacientes reais obtidas junto a um laboratório de análises clínicas. As pesquisadoras explicam que as conclusões do estudo são o primeiro passo para o desenvolvimento de alternativas terapêuticas a partir da planta. Estudos adicionais são necessários para que se possa descobrir, por exemplo, quais compostos presentes na planta são responsáveis por sua atividade antifúngica, elucidar o mecanismo de ação, além de avançar nos estudos de toxicidade.
O estudo é um dos frutos da linha de pesquisa “Conservação e uso sustentável da biodiversidade” do Programa de Pós-Graduação em Biodiversidade (PPGBio/FURB). Além da busca por compostos antifúngicos, pesquisadores vinculados ao grupo têm realizado estudos sobre ação antidepressiva, anti-inflamatória, antioxidante, antidiabética, fotoprotetora e cicatrizante de compostos provenientes de plantas nativas.
FURB Pesquisa
O trabalho foi tema do programa FURB Pesquisa desta semana: