Pesquisa FURB revela como vivem os idosos de Blumenau
Por Camila Maurer [21/02/2025] [14 h49]
Balanço é positivo, mas questões como locomoção e violência patrimonial são desafios
Pesquisadores da Universidade Regional de Blumenau (FURB) revelaram o perfil sociodemográfico da população idosa de Blumenau e produziram um amplo panorama das condições de vida das pessoas acima de 60 anos residentes no município. O estudo, intitulado Diagnóstico Social da Pessoa Idosa do Município de Blumenau, foi divulgado em dezembro de 2024 e desenvolvido a partir de uma parceria entre a universidade, a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social e o Conselho Municipal do Idoso. O trabalho, financiado com recursos do Fundo Municipal do idoso, tem como objetivo fornecer subsídios para a elaboração de políticas públicas voltadas à melhoria da qualidade de vida dessa população. O estudo foi coordenado pelo pesquisador Fabio Matos, professor do Departamento de Fisioterapia da FURB e vice-presidente da Comissão Estadual da Pessoa Idosa de Santa Catarina.
O diagnóstico revela que o município está envelhecendo: a partir deste ano, Blumenau deve passar a ter mais idosos do que crianças de 0 a 14 anos. Atualmente, a população idosa do município chega a 58 mil pessoas, 95% delas vivendo em área urbana. Vila Itoupava (17,2%), Jardim Blumenau (16,6%), Bom Retiro (15,1%) e Vorstadt (14,9%) são os bairros com maior presença de pessoas idosas proporcionalmente à população. Matos explica que o envelhecimento da população é uma realidade observada globalmente. “O envelhecimento da população, não só no Brasil, mas no mundo, é o maior fenômeno da sociedade. Agora, será uma constante e cada vez mais intenso. Daqui a 20 anos ou menos, prospecta-se que Blumenau terá pelo menos 100 mil habitantes com mais de 60 anos”, explica. Segundo o pesquisador, esse cenário exige planejamento por parte dos formuladores de políticas públicas e da sociedade em geral, tendo em vista que o aumento da população idosa gera demandas específicas para os sistemas de saúde e assistência social, por exemplo.
A população idosa de Blumenau é predominantemente feminina (57% são mulheres) e reflete o que os pesquisadores chamam de feminização da terceira idade, fenômeno demográfico que consiste no aumento da proporção de mulheres em relação aos homens entre a população idosa. Segundo o pesquisador, uma das causas para esse processo é o fato de que as mulheres vivem o envelhecimento de forma mais positiva em relação aos homens. Enquanto os homens tendem a ficar mais prostrados, estimulando menos a interação social e o aspecto físico, as mulheres costumam participar mais ativamente de programas e atividades culturais. Além disso, as mulheres costumam chegar à terceira idade com melhores condições físicas, tendo em vista que, em geral, cuidam mais da saúde ao longo da vida.
No âmbito da saúde e bem-estar, os pesquisadores chamam a atenção para o número de pessoas idosas que vivem sozinhas: em Blumenau, esse índice chega a 23,2%, mais da metade delas sem qualquer tipo de acompanhamento. Os dados suscitam preocupação, pois idosos que moram sozinhos estão mais expostos a uma série de riscos relacionados à saúde física e mental. O isolamento social gerado pela falta de acompanhamento pode levar a condições de saúde mental, como ansiedade e depressão, e a falta de assistência para atividades diárias pode resultar em riscos de quedas e fraturas, além de barreiras no acesso à saúde pela dificuldade em seguir prescrições médicas e comparecer a consultas regulares.
A pesquisa revelou que cerca de 20% dos idosos já sofreram algum tipo de violência, sobretudo patrimonial, caracterizada pela exploração ou manipulação de recursos patrimoniais ou financeiros da pessoa idosa. A maior parte dos casos de violência patrimonial relatados pelos idosos entrevistados foram cometidos por pessoas estranhas, o que demonstra a vulnerabilidade das pessoas idosas a fraudes e golpes e indica a necessidade de desenvolver estratégias educativas voltadas a essa população, inclusive no que se refere ao uso de novas tecnologias, como smartphones.
A condição das calçadas foi apontada pelos idosos como obstáculo para a locomoção. Para 75,2% dos idosos entrevistados, as calçadas de Blumenau não são adequadas para as pessoas idosas. Matos ressalta a importância de repensar a estrutura da cidade, tendo em vista que calçadas mal conservadas podem resultar em quedas e fraturas, o que impõe limitações à autonomia dos idosos e exerce pressão sobre os sistemas de saúde. Para 65% dos entrevistados, os banheiros públicos também não são adequados para as pessoas idosas. Os entrevistados apontaram, ainda, a necessidade de melhorias no atendimento do Sistema Único de Saúde (SUS), na manutenção urbana e nos pontos de ônibus, além da ampliação das atividades de lazer voltadas à população idosa.
O estudo também contemplou as Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPI) e revelou que a maior parte dos idosos que vivem nessas instituições foram encaminhados a elas por questões de saúde. Atualmente, há 24 Instituições de Longa Permanência para Idosos em Blumenau, mas apenas 14 delas permitiram a entrada dos pesquisadores. A maior parte das instituições encontram-se na região central da cidade, com melhor acesso aos hospitais. O perfil da população que vive nessas instituições é predominantemente feminino: as mulheres correspondem a cerca de 70% das pessoas idosas institucionalizadas. A presença de comorbidades e o nível de depressão maior do que entre os idosos comunitários estão entre os achados dos pesquisadores. Na avaliação de Matos, as instituições visitadas possuem estrutura adequada e são capazes de promover bem-estar, mas a falta de interação social confere aos idosos institucionalizados uma menor qualidade de vida em relação aos idosos comunitários. Segundo o pesquisador, além dos cuidados à saúde, alimentação adequada e atividade física, a interação social é determinante para a qualidade de vida da população idosa.
Mais de 60% da população idosa de Blumenau usa o sistema público de saúde. Na avaliação dos pesquisadores, o número é alto e indica que as unidades de saúde têm sido capazes de atender a demanda existente. Na avaliação de Matos, Blumenau possui programas consistentes voltados à população idosa, como o Pró Idoso, além de ser a única cidade de Santa Catarina a contar com um centro de saúde dedicado especificamente ao atendimento dessa população.
Apesar dos desafios, os pesquisadores ressaltam que o balanço, em geral, é positivo. “Blumenau está num bom caminho. Somos o município com a melhor perspectiva de envelhecimento e o melhor atendimento à população idosa. Precisamos melhorar, replicar o que está dando certo, rever a questão estrutural, a acessibilidade e mobilidade e dar condição de voz à pessoa idosa”, ressalta Matos.
Como a pesquisa foi realizada
O trabalho, que levou dois anos para ser finalizado, foi coordenado por Fabio Matos, Doutor em Desenvolvimento Regional e professor do Departamento de Fisioterapia da FURB. A pesquisa envolveu professores de diversas áreas do conhecimento: Cleide Gessele, do Departamento de Serviço Social; Josué de Souza, do Departamento de Ciências Sociais; Lauren Gomes, do Departamento de Psicologia; Nazareno Schmoeller, do Departamento de Economia; Aurélio Hoppe, do Departamento de Ciências da Computação e Henriete Damm, do Departamento de Matemática.
A coleta de dados foi realizada por 120 estudantes, entre bolsistas e voluntários, por meio da aplicação de um questionário de 148 perguntas que envolviam questões relacionadas aos direitos fundamentais estabelecidos pelo Estatuto da Pessoa Idosa. Os pesquisadores entrevistaram 1.089 idosos nos 35 bairros de Blumenau e 156 idosos que vivem em Instituições de Longa Permanência pra Idosos. A amostra é representativa da população acima de 60 anos residente em Blumenau. Além da aplicação de questionários, o trabalho incluiu levantamento de informações junto a órgãos governamentais e entidades da sociedade civil que prestam serviços à população idosa. Os resultados foram organizados em quatro volumes e estão disponíveis neste link.
FURB Pesquisa
O trabalho foi tema do programa FURB Pesquisa desta semana: