Um estudo realizado por pesquisadoras da Universidade Regional de Blumenau (FURB) revelou que 32,69% dos adolescentes entre 10 e 15 anos matriculados nas escolas municipais de Blumenau apresentam cárie dentária. A pesquisa foi conduzida pela pesquisadora Luiza de Souza e Silva, Mestre em Saúde Coletiva, sob orientação da professora Márcia de Freitas Oliveira, Doutora em Ciências Odontológicas e professora do Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva (PPGSC/FURB). As pesquisadoras avaliaram uma amostra representativa composta por 517 adolescentes matriculados em escolas municipais de todas as regiões de Blumenau. Trata-se de um estudo inédito, tendo em vista que pesquisas anteriores realizadas com o público adolescente estiveram restritas a alguns bairros do município.

Os índices de cárie dentária encontrados pela pesquisa são inferiores às taxas nacionais e dentro dos limites preconizados pela Organização Mundial de Saúde. Tais resultados podem ser atribuídos ao fato de que a cárie é uma doença altamente polarizada, isto é, apresenta-se de forma desigual entre a população, com tendência a se concentrar entre as camadas socialmente mais vulneráveis. Para as pesquisadoras, o alto IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) do município pode estar relacionado aos bons índices de saúde bucal revelados pela pesquisa. Os dados reforçam a necessidade de realizar estudos com foco nas realidades locais, de modo a subsidiar ações de saúde voltadas às especificidades de cada parcela da população.

Entre os principais achados da pesquisa, destaca-se o fato de que as meninas apresentaram maiores índices de cárie do que os meninos. Ainda que esse tipo de pesquisa não seja capaz de avaliar relações de causa e efeito, a literatura especializada indica que meninas costumam apresentar erupção precoce dos dentes permanentes, o que aumenta o tempo de exposição ao ambiente em que há condições para o desenvolvimento da cárie. Além disso, estudos anteriores constataram que a microbiota bucal das meninas apresenta concentração superior de microrganismos causadores de cárie, o que suscita atenção especial ao cuidado odontológico com essa parcela da população.

O estudo investigou, ainda, a associação entre a presença de cárie e os cuidados odontológicos. Entre os adolescentes pesquisados, a maioria relatou escovar os dentes três vezes ao dia; 50% afirmaram usar fio dental e 40% informaram o uso de enxaguante bucal. Os adolescentes que apresentavam cárie relataram escovar os dentes com menos frequência. A relação entre esses dados e avaliação clínica dos adolescentes revelou que o número de escovações realizadas após as refeições atuou como fator protetor da saúde bucal. O uso de enxaguante bucal, por outro lado, associou-se à presença de cárie. Luiza de Souza e Silva, autora da pesquisa, explica que o enxaguante bucal tem função auxiliar, pois apenas a escovação, o uso de fio dental e as limpezas realizadas em consultório odontológico são capazes de remover o biofilme dos dentes. O uso de enxaguante bucal de forma incorreta e não associado aos demais cuidados pode prejudicar a saúde bucal e favorecer a ocorrência de cáries.

Apesar de o quadro, em geral, ser melhor do que o identificado em outros lugares do país, preocupa o fato de que os adolescentes pesquisados procuram atendimento odontológico apenas quando já estão com algum problema de saúde bucal. Para Márcia de Freitas Oliveira, orientadora da pesquisa, essa postura tende a impactar negativamente na saúde bucal dos adolescentes, já que as consultas regulares ao dentista permitem identificar a cárie em estágios iniciais, quando ainda é possível tratar de forma minimamente invasiva. As pesquisadoras alertam, ainda, para o fato de que as mudanças comportamentais características da adolescência associadas a uma menor vigilância dos pais e da escola em relação aos hábitos alimentares e de higiene bucal tornam importante aprofundar o conhecimento sobre a saúde bucal dos adolescentes, de modo a permitir intervenções precoces.

Como a pesquisa foi realizada

O estudo integra o projeto “Saúde do Adolescente”, fruto de uma parceria entre o Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva e a Secretaria Municipal de Educação de Blumenau. A pesquisa consiste em um estudo populacional de base escolar que avaliou uma amostra representativa composta por 517 adolescentes entre 10 e 15 anos matriculados nas escolas municipais de Blumenau. A escolha das escolas e das salas de aula em que os adolescentes foram convidados a participar foi realizada de forma aleatória, contemplando todas as macrorregiões de Blumenau. Os alunos responderam a um questionário sobre cuidados odontológicos e foram submetidos a um exame clínico bucal em que se verificou a condição de cada um dos dentes para a obtenção do índice CPO-D, que mede a quantidade de dentes cariados, perdidos ou obturados.

Os alunos que aceitaram participar da pesquisa, assim como seus responsáveis, assinaram termos de consentimento. O estudo foi realizado exclusivamente com adolescentes matriculados na rede municipal de Blumenau, de modo que não se recomenda a generalização de seus resultados para toda a população de adolescentes do município, tendo em vista que estudantes das redes privada e estadual não foram incluídos.

Sobre a cárie dentária

A cárie dentária é uma doença multifatorial que resulta na perda de minerais dos tecidos duros do dente. Bactérias naturalmente presentes na boca metabolizam os resíduos de açúcares e amidos ingeridos através da alimentação. Esse processo resulta na criação de ácidos que desmineralizam a camada mais externa do dente, enfraquecendo-o e causando, em estágio inicial, uma mancha branca. Com o passar do tempo, a mancha branca pode evoluir e transformar-se em uma cavidade cariada, além de avançar para camadas mais profundas do dente.

Os hábitos alimentares estão diretamente relacionados à ocorrência de cáries: alimentos ricos em açúcar favorecem o ambiente em que a cárie se desenvolve, motivo pelo qual deve-se evitar o consumo frequente. Além da alimentação saudável, as principais medidas preventivas são a escovação e uso do fio dental após as refeições, além de visitas periódicas ao dentista para a realização de limpeza profissional. A frequência das consultas depende da condição de saúde bucal de cada indivíduo, mas deve ser de, no mínimo, uma vez ao ano.

FURB Pesquisa

Confira a entrevista completa com as responsáveis pelo estudo no programa FURB Pesquisa desta semana: