Pesquisa da FURB revela efeito cicatrizante e fotoprotetor de planta nativa da Mata Atlântica

Pesquisa da FURB revela efeito cicatrizante e fotoprotetor de planta nativa da Mata Atlântica

Foto: RTE FURB

Uma pesquisa desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Biodiversidade da Universidade Regional de Blumenau (PPGBio/FURB) revelou que a planta Myrcia neoobscura, nativa da Mata Atlântica e abundante em Santa Catarina, possui propriedades cicatrizantes e fotoprotetoras. O estudo foi conduzido pela pesquisadora Larissa Mascarenhas Krepsky, Mestre em Biodiversidade, sob orientação da professora Michele Debiasi Alberton, Doutora em Química. A intenção das pesquisadoras é fornecer subsídios para o desenvolvimento de um fitocosmético para a pele a partir da planta. O estudo é inédito, já que as características químicas dessa espécie ainda não haviam sido descritas pela literatura.

O trabalho das pesquisadoras teve início com a caracterização química da planta, que permitiu identificar a presença de uma série de compostos fenólicos, sobretudo o ácido gálico, amplamente conhecido por suas propriedades antioxidantes. Michele Debiasi Alberton, orientadora da pesquisa, explica que os radicais livres presentes no organismo promovem morte celular, envelhecimento e estão relacionados ao aparecimento de uma série de doenças, como Alzheimer e câncer. “Uma dieta rica em compostos fenólicos e a aplicação desses compostos na pele retarda muito esse processo de oxidação”, enfatiza.

Segundo Larissa Mascarenhas Krepsky, autora do estudo, a constatação de que a planta apresenta propriedades cicatrizantes é um dos principais resultados obtidos pelo estudo, tendo em vista que tais propriedades ainda não haviam sido identificadas pela literatura em outras plantas do gênero. Estudos realizados in vitro a partir de células da pele cultivadas em laboratório revelaram, ainda, propriedades antioxidantes, antimicrobianas e fotoprotetoras. Os resultados obtidos pelas pesquisadoras apontam para a possibilidade de uso da planta estudada como coadjuvante em filtros solares, para o tratamento de feridas e cicatrizes ou para cosméticos anti-envelhecimento, por exemplo. Os próximos passos para o desenvolvimento de um cosmético a partir da Myrcia neoobscura envolvem a elaboração de uma formulação que incorpore os ativos identificados e tenha as características necessárias para a comercialização.  Segundo a orientadora da pesquisa, o processo de desenvolvimento de um fitocosmético a partir da planta pode durar cerca de três anos.

A busca por recursos naturais capazes substituir compostos sintéticos é uma tendência em expansão na indústria farmacêutica e no mercado de cosméticos. Alberton enfatiza a importância de aprofundar o conhecimento sobre a biodiversidade brasileira e catarinense, ainda amplamente desconhecida. “As plantas exóticas são muito exploradas, mas as plantas da biodiversidade brasileira precisam de mais estudos. Nós temos a maior biodiversidade do mundo e, ao mesmo tempo, uma lacuna enorme de conhecimento sobre as propriedades das nossas plantas”, ressalta.

 

Como a pesquisa foi realizada

 

As pesquisadoras coletaram a planta no Parque São Francisco de Assis, em Blumenau, e armazenaram em estufa apropriada para manter suas características. As folhas da planta foram utilizadas para a produção de um extrato bruto, que passou por análise química para identificação dos compostos presentes. As pesquisadoras, realizaram, ainda, um fracionamento, processo que permitiu isolar alguns compostos presentes no extrato de modo que pudessem ser testados isoladamente. O estudo conduzido por Krepsky e Alberton realizou testes in vitro a partir de fibroblastos (células da pele) cultivados em laboratório, para identificar atividade anti-envelhecimento, antiglicante, antibacteriana, cicatrizante e fotoprotetora, além de ensaios para avaliar a toxicidade do extrato. A maior parte dos ensaios foi realizada utilizando a estrutura da FURB. Testes de toxicidade e caracterização química contaram com o apoio de pesquisadores da Universidade do Vale do Itajaí (Univali) e da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

O estudo de Krepsky e Alberton é um dos frutos da linha de pesquisa “Conservação e uso sustentável da biodiversidade” do Programa de Pós-Graduação em Biodiversidade (PPGBio/FURB). Além da busca por compostos com ação cicatrizante e fotoprotetora, pesquisadores vinculados ao grupo têm realizado estudos sobre a ação antidepressiva, anti-inflamatória, antiparasitária, antioxidante e antidiabética de compostos provenientes de plantas nativas.

 

FURB Pesquisa

O trabalho foi tema do programa FURB Pesquisa desta semana:

 

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Aviso: Esta matéria visa divulgar os avanços científicos provenientes das pesquisas desenvolvidas pela FURB. Ressaltamos que a instituição não incentiva, de nenhuma forma, o uso das informações apresentadas fora do ambiente controlado do estudo científico apresentado e sobretudo não o indica em contextos domésticos. É fundamental a realização de estudos adicionais para assegurar o desenvolvimento e uso seguro das descobertas para seres humanos.