Dia da Consciência Negra com atividades na Universidade
Por Central Multimídia de Conteúdo/Jornalismo [21/11/2019] [17 h15]
Em vários lugares do Brasil o Dia Nacional da Consciência Negra, 20 de novembro, foi marcado por eventos artísticos, celebrações e debates. Na Universidade Regional de Blumenau o Núcleo de Estudos Afro-brasileiros (NEAB) promoveu uma roda de conversa com representantes da comunidade negra tanto externos quanto da instituição.
Além do debate, acadêmicos de Educação Física reuniram adeptos e mestres de capoeira, caminhando desde o complexo esportivo ao som dos berimbaus, percorrendo os blocos das salas de aula até armarem uma grande roda em frente a biblioteca universitária. “Esse evento quer discutir perspectivas culturais populares da cultura negra. Porque Blumenau, como a gente já sabe, têm muitas etnias formando a cidade e se dá o privilégio, em virtude do tamanho da festa, a Oktoberfest. Assim, a gente acaba relegando a cultura popular negra, por exemplo o hap, samba principalmente, o pagode. Então a gente quer discutir hoje as perspectivas para o futuro dessas ações culturais negras que Blumenau também têm”, afirma o coordenador NEAB/ FURB, Sandro Galarça.
A atriz Nate Pete foi uma das convidadas para o debate. Ela conta como é ser mulher e negra na cidade. “Nós, mulheres negras, ocupamos - se formos trabalhar em uma escala de hierarquia - a base da montanha”. Ela discorreu sobre a marginalização dos corpos negros.
Devido à colonização europeia da região, Sadro Galarça, do NEAB, analisa que os negros encontram dificuldade de inserção na sociedade. “O Sul do país já é um lugar onde a sociedade já é predominante branca; se você for comparar com o Sudeste, Nordeste, você tem menos representatividade. Mesmo nos lugares onde você teria que ter uma representatividade maior, como por exemplo na Universidade, que é o lugar de espaço para todos, ainda temos alguns espaços para conquistar e o NEAB atua nessa intenção de conquistar e reforçar espaços para que essa discriminação e problema racial brasileiro seja um pouco atenuado”, esclarece Galarça.
O escritor José Endoença Martins, blumenauense com larga obra literária com temática sobre a negritude inclusive blumenauense, coordenou a mesa de debates e falou sobre o avanço do movimento na cidade. Para os pessimistas, lembrou que ele em ingressou como professor da FURB em 1976, quando era o único professor negro da Universidade e décadas depois viu o NEAB nascer, em 2015. Endoença está aposentado mas volta à instituição semanalmente para os encontros do núcleo.
Participou também da conversa o pai de santo Pepe Sedrez. Ele falou sobre a discriminação às religiões de matriz africana. Explicou sobre o surgimento da umbanda no Brasil como dissidência do espiritismo kardecista. Sedrez é diretor de teatro e contou sobre discriminações que algumas peças sofre por terem conteúdo contestatório e temática racial.
E justamente no dia da Consciência Negra o professor universitário Doutor Juarez Tadeu de Paula Xavier, da Universidade do Estado de São Paulo (Unesp), no campus de Bauru, foi atacado com canivete após reagir ao agressor que se dirigia a ele com palavras ofensivas de cunho racista. O ato foi registrado, na tarde de quarta-feira, como injúria racial e lesão corporal. “É completamente inadmissível que pessoas ainda se julguem superiores a outras e se aproveitem de momentos significativos como a data dedicada à reflexão da Consciência Negra e às questões éticas e raciais para impor suas vontades. É lamentável que os casos de homofobia, racismo, sexismo, em franco desrespeito às Leis e à Constituição, estejam se multiplicando no País”, manifestou em nota a Associação Brasileira de Ensino de Jornalismo.