Matemática

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Foto: Isabelle Stringari Ribeiro

Uma exposição marcada por dor, sangue e lágrimas, apesar de parecer leve e simples. A obra de Joanna Leoni é uma conquista para o curso de Artes da Universidade Regional de Blumenau (FURB). Ela traz um olhar cuidadoso de uma conquista da década de 1990.
 
A exposição apresenta transparência nos tecidos e um tom mais sério nas pinturas, quando a artista usa tons em vermelho para fazer referência ao sangue e dores que viveu e às repressões que já passou durante toda a trajetória.
 
Joanna comenta que o vermelho é basicamente o sangue e que todos estão em um lugar específico. "A maioria está na área genital, porque é a área de maior disforia de uma pessoa trans, por exemplo. A Silvia Teske, uma artista de Brusque me disse que todas as mulheres sangram, algumas pelo corpo, outras pela alma ou pelo coração e eu levei isso pra minha vida”, conta.
 
Para o chefe da divisão de cultura da FURB, Ruan Rosa, é muito importante esse tipo de exposição na Universidade. “A FURB tem uma relação histórica com a arte do Vale do Itajaí, por aqui já passaram artistas com as suas primeiras exposições e hoje eles estão em acervos no mundo inteiro. A Joanna, por exemplo, é uma artista de Brusque e é uma sorte da FURB ter ela aqui”, comemora.
 
A artista
 
Joanna tem 21 anos e é natural de Brusque. É estudante da sétima fase de Artes Visuais da FURB e trans-artista visual, professora, escritora e curadora. É pesquisadora e membro do Grupo de Pesquisa Arte e Estética na Educação, com pesquisas relacionadas à Mediação Cultural, Educação Estética em Espaços Formais e Não Formais de Ensino, livros de arte para crianças e as travestilidades inerentes a sua vida e produção.
 
Em 2021, foi presidente do Centro Acadêmico de Artes Visuais, Música, Teatro e Dança. Agora, a artista é a primeira secretária do Diretório Central dos Estudantes (DCE/FURB). É ativa nas causas de gênero e a primeira professora trans e travesti de Brusque, o que para ela é uma conquista.
 
“É um desafio muito grande. Eu costumo dizer que existe as dores e as delícias de ser a pioneira em alguma coisa. No caso de ser a professora travesti, sendo a primeira ou não, já é um passo difícil. As crianças têm muita naturalidade comigo, o problema são os adultos, o que eu estou tendo que enfrentar são as instituições. Tendo que provar que sou capaz de fazer aquilo”, conta.
 
Ela é referência para diversos estudantes e motivo de orgulho para os professores. A coordenadora do curso de Artes da FURB, Lindamir Junge, diz que Joanna sempre demonstrou muita vontade de aprender. É uma pessoa empenhada e muito versátil. Ela é empoderada, a gente percebe que ela não tem medo de dizer o que sente, do que ela pensa. Eu me sinto muito orgulhosa”, afirma.
 
Carla Carvalho é professora de Joanna no curso de Artes e acompanhou a evolução da artista brusquense. “É muito significativo ver o processo de elaboração estético artístico de uma jovem como a Joanna, em todos os sentidos, como ela foi construindo o seu próprio fazer artístico e como nesse percurso ela foi descobrindo sua linguagem artística”, diz.
 
Para Joanna, a pandemia trouxe momentos de solidão e tristeza, que resultaram em inspiração para o trabalho artístico. Por meio de desenhos, a artista retrata diferentes personas através do espelho.
 
Agenda da exposição
 
A exposição “A Mulher Vai até o Espelho”, de Joanna Leoni, será exposta no Salão Angelim, na Biblioteca da FURB, até o dia 10 de junho. A artista explora em suas obras a Arte Contemporânea, e faz referência a investigações de questões políticas cotidianas, como gênero, direitos básicos de cidadania, impunidade, entre outros.
 
A abertura da exposição aconteceu em 17 de maio e contou com a apresentação do Coro da FURB, sob regência do maestro Eusébio Kohler. 
 
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